Colagem

Tenho tanto a dizer,
e não digo nem o necessário —
isso, sempre, nunca basta.

O que falo não contém
toda a minha liberdade,
nem traduz inteira minha verdade.

Sinto vontade de expandir,
mas meu saber é estreito,
cercado por barreiras
que escondem segredos —
muitos deles, nem eu reconheço.

E, ainda assim,
essas tolas mentiras
são tomadas como sérias
na corrente de oportunidades
que ninguém entende,
mas todos chamam de realidade.

Uma série de acontecimentos
se repete no eco das vidas alheias,
interpretada sem cuidado,
aceita sem razão.

Quando nada resta
além da conveniência
de participar do que é decidido em conjunto,
faz-se disso uma verdade —
um alimento raso
que não sacia,
mas ocupa o vazio da alma.

A mente, resignada,
se preenche com o que encontra.
E não há como mudar
enquanto não ousarmos
buscar além —
ou decidir que o além, afinal,
não está em outro lugar, mas em nós mesmos.

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