Transmutação
Quero que tudo se converta em fogo, em lamento, em cinzas lançadas ao vento — que ninguém ouve, nem percebe o acontecimento. Quero que a água desça ao abismo, que se transforme em lodo, e dele nasça o entendimento. Que cada lágrima, antes de ser esquecimento, purifique o sofrimento, e lave da alma o que não encontra mais sustento. Pois é assim que me sinto agora: sem outrora, num tempo suspenso sobre a dor, sem o discernimento. Esperar é mais que demora — é o limiar entre o que morre e o que floresce, é o instante em que os sentidos se reconhecem no espelho do firmamento. E no meio desse rito de apagamento, há uma centelha, um sopro de luz incandescente — é o que me resta, é o que me mantém em pé.